sexta-feira, 15 de agosto de 2008

fuga? ( resposta )


Querida

Não sabes como lamento não ter estado aí, para te fazer festinhas no cabelo e te dar o meu ombro para chorares. É bom saber que estou no teu pensamento, espero que saibas que também estás no meu. Que apesar de ter levado tanto tempo a responder pensei em ti frequentemente e que a tua dor também me doeu a mim e que a tua atitude me fez sentir orgulhosa, como se tivesse sido uma atitude minha. Aquela que anda a gritar dentro de mim... O amor também é deixarmos-nos usar e dar a outra face, mas há limites. Ainda bem que soubeste não ultrapassar os teus. Há fronteiras que uma vez cruzadas se transformam em abismos e depois não já não é possível voltar. Algo muda em nós, como uma transformação química, como uma maldição eterna. A vida é aqui e agora. Se não fores atrás da felicidade, nada disto faz sentido. Carpe diem... Acho óptima a ideia do interrail. Foi o que eu fiz e foi uma experiência fantástica. Com outras pessoas teria sido ainda melhor. Por isso, o único conselho que te dou é que escolhas bem a companhia e vai, não deixes que nada te detenha. O mundo é tão grande e está tão cheio de coisas para ver, de pessoas fantásticas e inesquecíveis... Que o céu seja o teu limite, até que ganhes asas. Sê feliz. A literatura não existe sem coração. A arte não desponta de almas mortas e corações parados. Primeiro é preciso haver vida, almas e corações em movimento que gritam ao mundo o que são e que estão vivos. E isso é arte, é literatura. Há pouco tempo consegui encontrar a paz o que a isso diz respeito. Sempre me senti muito triste por não conseguir escrever como os bons escritores, por não ser genial. É claro que nunca tinha constatado o óbvio: como podes escrever sobre o que não sabes? Todos os bons escritores são bem mais velhos, já viveram muito, conhecem o mundo e as pessoas... há que esperar. Até lá vou escrevendo cartas... :) Que te posso dizer sobre mim? Tive um mês terrível, cheio de trabalho, já que, para além do novo trabalho, tive dois grandes trabalhos de tradução para fazer e adoeci pelo meio. Não gosto do meu trabalho, ando triste e desmotivada. Os meus colegas são todos franceses e eu ainda tenho dificuldades em percebê-los, especialmente quando falam entre eles em gíria e calão. Estou a pensar dedicar-me inteiramente à tradução como freelancer, se tudo correr bem. Ou se entretanto não encontrar outro trabalho. Aqui entre nós que ninguém nos ouve, não sei se quero cá estar 3 anos... Mas apesar de tudo, sinto-me bem comigo mesma. Sinto-me mais ou menos de borracha, como se o mundo me pudesse abalar, mas não me pudesse partir... Como vai a fac? Tenho tantas saudades de estudar... Não do stress, claro, mas das aulas interessantes, das discussões nos intervalos, da relvinha do PN, dos furos na esplanada e nos corredores... Diz-me como estás. Prometo que não vou ficar tanto tempo sem dar notícias. Espero que me perdoes e que saibas que nunca me esqueço de ti, a minha XXXX do coração. Gosto muito de ti. Beijo muito grande.... S.



Graças a Deus por ter quem me responda ***

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