terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A folha de papel


Gostava de saber porque é que as pessoas só escrevem quando estão tristes. Porque é que dessa tristeza saem sempre textos bem elaborados, cheio de sentimento de cheiro. Será porque nos sentimos sozinhos? Será esta folha de papel a nossa melhor amiga, a nossa companheira que ouve sem questionar, sem nos tirar a razão? E depois... Será que nos limpa as lágrimas e coloca a sua mão sobre a nossa cabeça dizendo que tudo vai passar no meio das suas linhas molhadas do choro? E porque é que deixamos de comer, o então comemos demais? Já não basta o mal que nos fazemos a nós próprias ao viver assim? Enchemos-nos de vazio, de tabaco aos montes... Dói-nos a cabeça, e mesmo assim não pensamos noutra coisa? Quando é que o sonho acabou, quando é que temos que dar instruções às pessoas para nos amar. Ah e tal ... se tivesses feito isto e aquilo e acolotro... ah e tu se não tivesses dito aquilo como seria? Como seria? É como queríamos? E se fosse como queríamos, não perderia a piada? Seriamos felizes se concretizássemos todos os nossos sonhos? Acho que não, vejo que não. O Aladino também percebeu que não. Oh para mim, que tanto desejei sem pensar nos senãos... sem sair do mesmo sitio, sem mudar sequer o meu ponto de partida. Terá assim a vida algum significado senão terminarmos de preencher esta folha nossa amiga? E como está o mundo à nossa volta? Feliz, infeliz? Será que existe mesmo a alegria ou será esse o Santo Graal da vida sem sentido, sem tocar ? Tanta pergunta te coloco eu minha folha amiga. Será que amanha me respondes? Ou talvez para o ano, ou para o outro? Não me importo de esperar... já me habituei a essa espera... só tenho medo que não me respondas e que a minha vida se torne uma espera contínua entre pratos para lavar e roupa para passar a ferro. Não me deixes passar esse testemunho a ninguém, não deixes que a espera seja tão continuada que depois de eu partir ainda haja alguém a olhar para ti folha, há espera que respondas. Esta na altura de acabar esse suplício, de passar testemunhos irreais como o que me passaram a mim. Se não quiseres responder, diz logo que não. Não nos deixes procurar respostas noutros lados, noutras pessoas ... mas principalmente não nos deixes. Mascara-te de nós, ensina-nos a ver o que tu vês. A responder em espaços brancos e a não deixar que o branco se torne a nossa vida ou os nossos sonhos. Se isso for demais para pedir, tira-nos os sonhos que não nos levam a lado nenhum, cheios de senãos e adversidades. Tira a capa do sol, deixa-nos olhar para ele e saber que está lá e que não é sonho. Tira-nos a dor de cabeça, a vontade de vomitar o mundo , de engolir tudo o que não pudemos ter. Tira-nos a roupa, obriga-nos a andar nus e a começar de novo. Escreve as tuas respostas no vento , na água e não naquela folha de parreira para onde inicialmente começamos à procura de respostas... Tira-nos a mãe, o pai e o irmão, e principalmente o coração. Tira-nos o arrependimento do amanha, tira-nos o amanha. Senta-te comigo, afaga os meus cabelos, fecha-me os olhos só para te escutar. E a vida, será que essa podes tirar? Será que se pode tirar o que nunca se teve. Maldito testemunho o que me passaram, fardo carregado este de te esperar. Vou dormir... vou fazer tudo eu, fechar janela da curiosidade, desligar o relógio do tempo e tentar não pensar no amanha pois já vivi o hoje. E o hoje de hoje em que não me respondeste ò folha.

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